sábado, 6 de março de 2010

1

Ana estava sentada à minha frente, abrindo para mim a sua vida, e eu me questionava se isso estava certo. Que direito eu tinha de saber sobre coisas tão profundas?
Sabia que outros muitos pacientes aguardavam na sala de espera ao lado, mas isso provavelmente era nada diante de seu estado de alma.
Deixei que falasse, sem interrupções. Estava precisando que alguem a ouvisse talvez até para se salvar mais um dia. Enquanto falava, ia estudando seus gestos, seu rosto.Era muito bonita,para a idade que tinha.Acabara de entrar no climatério,mas continuava com os traços da modelo que me confessou ter sido um dia.Os cabelos de um castanho claro, emolduravam um rosto arquitetonicamente equilibrado, de uma suavidade de causar alguma inveja sadia . As palavras já não eram tão bonitas naquele momento. Estava se separando do marido após vinte e cinco anos de casamento, e isso eu não invejava.