quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

recordações4

Minha filha saiu apressada para o trabalho,mas como sempre, demorou bastante no ato de sair com o carro em marcha ré.
Se duvidasse da genética, essa seria uma prova decisiva para apagar qualquer dúvida.Também tenho muita incerteza nessa hora; olho inúmeras vezes para trás, como se sempre houvesse alguem escondido.
Discutimos novamente nessa manhã; não são apenas décadas que separam nossas diferenças, são séculos.A vida mudou muito rapidamente para essa geração.Se aprimorou em demasia na ciência e na tecnologia, se acovardou na disciplina, no respeito à família,nos sentimentos em geral.Ganhou muito no racional, perdeu muito no emocional.
Como serão os novos tempos? A vida sem uma preservação da família com o conceito dos velhos tempos?Chega a me deixar bastante confusa essa mistura de filhos de família um, convivendo num mesmo teto com família dois, às vezes já com mais alguém da família três...Difícil é até de se escrever sobre esses ajuntamentos.
Não sei o quanto entra de preconceito nessa minha versão,mas o fato é que muitas vezes surgem grandes conflitos dessa mistura. Enfim, o conceito de família já é por si só conflitante.
Voltando à minha filha, chegar atrasada ao hospital não lhe agrada nem um pouco.Ficou muito da bisavó em seus traços...

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

recordações3

Mal fecharam a porta, pai e filho, já estava minha avó a acordar as meninas para o segundo turno do café.
Enquanto as três comiam, camas eram arrumadas, banheiros limpos, roupas dobradas.
Havia uma felicidade que eu diria infinita, nesses pequenos gestos de trabalho doméstico.
Ela amava tudo, embora sem declarações. Essa é uma característica que eu descobri mais tarde, ser herdada.Os imigrantes italianos daquela época eram bem assim: muito trabalho, pouca conversa.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

recordações2

Apesar de muito ousada e ativa, minha mãe sempre teve muito medo.
Entendi o porque, depois que me contaram sobre o desenrolar daquela manhã.
Ela era a mais velha daquelas três meninas que dormiam no quarto dos fundos.Cabelos loiros, olhos verdes e expressivos, sonhava certamente com um dia lindo pela frente.Infelizmente, não foi o que aconteceu.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

recordações

Parecia um dia como outro qualquer... Da porta de entrada se sentia o perfume do café que só ela sabia fazer tão bem.Suave perfume da minha infância, que só agora percebo, tão querida. A ele se juntava o cheiro do pão levemente tostado, do leite recem fervido.
Na mesa, tão grande na minha lembrança,pequena para quem a observa com olhos adultos, estava sentado o meu avô.
Senhor na idade, senhor absoluto na atitude.Seus olhos azuis pareciam existir só para suavizar todos os outros traços do rosto que embora bonito,se impunha demais em qualquer situação.
Comia calado. Tambem calado estava a seu lado, uma miniatura sua, fiel demais para ser de verdade.Herdara tudo do pai: os mesmos olhos, a mesma beleza, e a suavidade cujo único traço estava no azul.
Minha avó talvez não percebesse que eram os dois tão calados; se sabia, disfarçava muito bem a gorduchinha.Tamanha era sua vivacidade e sua energia que preenchia todos os espaços vazios dos caladões.
Ela estava presente ao mesmo tempo em todos os ambientes daquela casa. Não fosse o seu corpo, estava o seu aroma, o seu gosto, a sua escolha. Misturava sua atitude aos tachos de cobre espalhados pela casa afora.Ela brilhava junto com o cobre que era esfregado semanalmente com limão e sal.
As tres outras filhas do casal dormiam no quarto nos fundos da casa.Eram pequenas demais para estarem presentes àquela mesa, naquela manhã.
Ao teminarem o café, pai e filho, calados , saíram para o trabalho.
Minha avó também apenas começava o seu, interminável. Não me lembro de vê-la muitas vezes em minha vida, sem estar trabalhando em alguma coisa. A propriedade era grande e ela não tinha grande ajuda.
Meu avô, além de muitas plantações, tinha uma olaria.